Reforma

Relações trabalhistas em transformação

Após mudanças na legislação, feriado do 1º de maio pouco tem a ver com os direitos do trabalhador moderno

Ana Volte - Agência Senado - Em muitos casos, a terceirização substituiu a carteira de trabalho

Num mundo de constantes mudanças tecnológicas, em que ninguém mais faz nada da mesma maneira que fazia há poucos anos, o trabalho também passou por grandes transformações. Desde a facilidade no acesso à informação, passando pelo uso dos smartphones e o home office, o principal fator que rege as relações trabalhistas no Brasil foi alterado em 2017, com a reforma que flexibilizou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), instituída em 1943 pelo presidente Getúlio Vargas.

Entre as mudanças trazidas pela reforma estão a instituição do trabalho intermitente e do banco de horas, a possibilidade de fracionamento de férias, a criação da jornada de trabalho de 12 horas e a possibilidade de terceirização. Já em 2019, a chamada Lei da Liberdade Econômica ampliou a flexibilização, permitindo que as negociações entre empresas e sindicato se sobreponham à legislação em pontos como a jornada de trabalho, os bancos de horas e os intervalos.

O professor de Direito do Trabalho das universidades Federal e Católica de Pelotas, Jairo Halpern, considera que as mudanças na legislação refletem não apenas a visão ideológica dos governos que as instituíram, mas também o momento histórico e os avanços tecnológicos. “O direito do trabalho tem um viés ideológico importante, porque o início dele teve uma visão tipicamente não-liberal e de proteção social absoluta, e isso mudou de 2017 para cá”, explica.

“Com a reforma trabalhista, houve uma flexibilização muito clara de direitos, para alguns uma forma de precarizar as relações trabalhistas, para outros, uma necessidade frente a uma mudança no mundo da tecnologia e nas formas de trabalho”, diz. O professor pondera que em muitos casos ainda não há consensos jurídicos sobre as relações de trabalho, havendo divergências entre decisões de tribunais trabalhistas e do Supremo Tribunal Federal (STF), como é o caso dos trabalhadores por aplicativo, por exemplo.

Terceirização divide opiniões

Entre críticas e elogios, fato é que as mudanças na legislação deixam de lado uma visão mais protecionista do trabalho, defendida na CLT original, adotando uma abordagem mais liberal das relações econômicas e trabalhistas. A regulamentação da terceirização, por exemplo, abriu margem para que empresas contratem profissionais como pessoas jurídicas, sem compromisso trabalhista. “Nós tínhamos, de um lado, uma legislação trabalhista que era conservadora, protetiva, e foi avançando para uma modernidade, para uma instabilidade, e caímos nessa legislação da terceirização livre, incluindo do serviço público, e as interpretações começaram a aparecer no judiciário”, diz Halpern, explicando que as decisões dos tribunais têm sido favoráveis a esse regime de contratação.

O jornalista Rui Junior trabalha como social media, pelo regime de pessoa jurídica, há quatro anos. Ele considera que há aspectos positivos, como a possibilidade de trabalhar para mais de uma empresa sem ter a obrigação de cumprir horário e ter uma rentabilidade maior, e aspectos negativos, como não ter a garantia de um salário fixo. “Eu acredito que a contratação por PJ é uma boa oportunidade para quem realmente quer se estabelecer como empresa e vir a ter uma receita maior. Agora, é importante avaliar se o contratante está realmente em busca da entrega ou se está apenas contratando PJ para reduzir impostos e fugir da lei trabalhista”, avalia.

Já uma programadora, que pediu para não ser identificada, trabalha com desenvolvimento de software em home office para uma empresa de automação e tem uma visão mais negativa da ‘pejotização’. “Eu gosto muito da empresa e dos meus colegas, mas é uma cultura estranha por ser PJ, pois cumpro as 44h semanais igual o resto do pessoal, mas sem benefícios”, diz ela, que considera que as vantagens da terceirização são apenas para a empresa, e não para ela.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Feriado do Dia do Trabalhador terá serviços essenciais em Pelotas Anterior

Feriado do Dia do Trabalhador terá serviços essenciais em Pelotas

Defesa Civil apresenta balanço de estragos na região Próximo

Defesa Civil apresenta balanço de estragos na região

Deixe seu comentário